quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Poluiçao do jaguar





O que se deseja mostrar com o processo de ocupação do Vale do Jaguaribe é justamente a relação entre o desenvolvimento das cidades para com os altos índices de degradação do meio físico em que o rio está inserido, principalmente porque grande parte das cidades do baixo vale estão inseridas ou bem próximas à planície fluvial deste rio.
Diante dessa situação, conclui-se que todo espaço transformado por um processo de ocupação está sujeito a constantes mudanças em meio às necessidades que nele surgem; aos poucos estas necessidades começam a desencadear anseios de desenvolvimento, gerando lucros e promovendo a expansão urbana. Daí surgem também os processos de degradação, iniciados, em pequena escala, desde as primeira modificações ocorridas nesse espaço, atingindo níveis cada vez maiores dependendo dos avanços e das formas dessa expansão, principalmente quando se trata de um ambiente frágil,quer seja pelo uso indiscriminado das margens,pela poluição, ou despejo de resíduos dessas cidades.
Assim, com o leito já com altos índices de assoreamento, bem como uma grande quantidade de barramentos, a navegação que já foi elemento importante na construção desse espaço hoje produzido, não possui mais atuação significativa. Alguns barcos e balsas de pequeno porte ainda são encontradas na altura do município de Fortim – onde o rio atinge profundidades maiores-, sendo estes destinados, em sua grande maioria, à pesca e ao turismo.
O que torna cada vez mais presente nos dias atuais são os problemas referentes aos processos hidrossedimentológicos que atuam no leito dos rios e que podem ser perfeitamente identificados em todo o percurso do Rio Jaguaribe sob a forma de assoreamento no leito e o montante dos barramentos.
Os maiores vilões das águas do rio Jaguaribe são os agrotóxicos utilizados nas lavouras, seguidos do lixo que é jogado nas margens,além das atividades pecuárias como a suinocultura, currais, fornos de queima de cal, de produção de carvão, construídos em suas margens e algumas vezes em seu leito.
O crescimento econômico é um fator determinante no aumento do consumo de água. São muitos os fatores que levam a poluição dos mananciais e que por isso, devem ser reduzidos ou eliminados: o crescimento urbano descontrolado, a instalação de fabricas e indústrias junto aos rios, a devastação das florestas em geral, e de modo particular a destruição das matas ciliares formadas pela vegetação que margeia os rios e lagoas que funcionam como filtro protetor dos cursos d’água, o uso incorreto e abusivo dos agrotóxicos, as atividades extrativistas e também a erosão dos solos.

Histórico Rio das onças

O Rio Jaguaribe, cujo nome tem origem indígena e significa 'Rio das Onças', é um dos mais importantes do Ceará. Tem suas nascentes na Serra da Joaninha, no município de Tauá. Sua bacia que é a mais extensa do Ceará ocupa uma área de aproximadamente 80.000 quilômetros quadrados. Essa área equivale a mais de 40% do território cearense. Em anos de chuvas abundantes, esse rio torna-se arrasador, desabrigando famílias ribeirinhas, devastando plantações e animais.
Em épocas passadas, toda a água desse caudaloso rio que recebe como afluentes outros rios da importância de um Banabuiú, Salgado,e Figueiredo, corria totalmente para o Oceano Atlântico. Passada a força da quadra chuvosa que ocorre nos meses de março-abril, sem muito tardar o seu leito voltava à sequidão de sempre, sem água e com as areias totalmente à mostra. Por esse motivo era cognominado de “o maior Rio seco do mundo”, hoje perenizado pela barragem do Castanhão.

O Rio Jaguaribe, cujo nome tem origem indígena e significa 'Rio das Onças', é um dos mais importantes do Ceará. Tem suas nascentes na Serra da Joaninha, no município de Tauá. Sua bacia que é a mais extensa do Ceará ocupa uma área de aproximadamente 80.000 quilômetros quadrados. Essa área equivale a mais de 40% do território cearense. Em anos de chuvas abundantes, esse rio torna-se arrasador, desabrigando famílias ribeirinhas, devastando plantações e animais.
Em épocas passadas, toda a água desse caudaloso rio que recebe como afluentes outros rios da importância de um Banabuiú, Salgado,e Figueiredo, corria totalmente para o Oceano Atlântico. Passada a força da quadra chuvosa que ocorre nos meses de março-abril, sem muito tardar o seu leito voltava à sequidão de sempre, sem água e com as areias totalmente à mostra. Por esse motivo era cognominado de “o maior Rio seco do mundo”, hoje perenizado pela barragem do Castanhão.

http://www.riojaguaribe.com.br/

ARTIGO

Aquecimento Global e Ecossocialismo
João Alfredo Telles Meloadvogado

Estaríamos diante do apocalipse? Paulo Artaxo, um dos cientistas brasileiros do IPCC, tenta nos tranqüilizar: "O aquecimento global não é o fim do mundo, de jeito nenhum", mas adverte: "Um dos pontos cruciais do relatório do IPCC é a urgência da diminuição da emissão dos gases do efeito estufa
09/11/2007 16:36
"Do ponto de vista de uma formação socioeconômica mais avançada, a propriedade privada dos indivíduos na Terra parecerá tão absurda como a propriedade de um homem sobre outros homens. Mesmo uma sociedade inteira, uma nação, ou mesmo todas as sociedades existentes num dado momento, em conjunto, não são donos da Terra. São simplesmente os seus possuidores, os seus beneficiários, e têm a legar, num estado melhorado, para as gerações seguintes, como boni patri famílias (bons pais de família)"(Karl Marx, O Capital) John Bellamy Foster, autor de um dos livros mais importantes para os ecossocialistas (A Ecologia de Marx, materialismo e natureza, Civilização Brasileira), em artigo recente, intitulado A Ecologia da Destruição, nos chama a atenção para o fato de que "é uma característica da nossa época que a devastação global pareça sobrepor-se a todos os outros problemas, ameaçando a sobrevivência da terra como a conhecemos". A grande repercussão do quarto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU, em sua sigla em inglês) - em que milhares de cientistas de praticamente todo o planeta, não só constataram a relação direta entre fenômenos climáticos intensos decorrentes do aquecimento global com a emissão dos chamados gases de efeito estufa (gee) pelas atividades industriais, energéticas e agrícolas, mas também apontaram projeções catastróficas para este século, caso não haja uma drástica mudança na matriz energética e no padrão de consumo - deu foros de cientificidade ao documentário A Verdade Inconveniente, do ex-vice-presidente estadunidense Al Gore, que recebeu o Oscar deste ano e também, juntamente com o próprio IPCC, o prêmio Nobel da Paz. Portanto, com exceção da minoria dos chamados "céticos", dentre os quais se encontram cientistas sérios, como o brasileiro Aziz Ab´Saber, e organizações bancadas pelo Governo Bush e pelas grandes indústrias de petróleo e carvão mineral no mundo, há uma ampla maioria - amplíssima, diria - de gente da comunidade científica (e aqui se perfilam brasileiros da maior respeitabilidade, como José Goldenberg, Carlos Nobre e Luis Pinguelli Rosa), dos movimentos ambientalistas, de governos e até de setores empresariais que, a partir dos dados do IPCC, procuram encontrar saídas para a crise planetária, manifestada hoje pelo aquecimento global que ameaça a vida na Terra. Abra-se aqui parêntesis para aduzir que a aposta que os céticos - em sua versão séria, não comprometida com os interesses do capital petroleiro e mineral - é uma aposta perdida, em suas duas possibilidades. Se eles estiverem errados (quando afirmam que o fenômeno do superaquecimento é natural e que as previsões do IPCC estão equivocadas), podem, de forma involuntária, estarem contribuindo com o lobby das grandes corporações petrolíferas e mineiras, impedindo a mudança do padrão energético para as fontes renováveis e serem co-responsáveis pela catástrofe que se prenuncia. Por outro lado, se estiverem certos (o que não é muito provável, dado o amplo consenso científico alcançado depois de quase vinte anos de IPCC), estão atrasando a nossa evolução para a despoluição e descarbonização do planeta. Ou seja, ainda que, numa hipótese quase absurda, não esteja ocorrendo o aquecimento provocado pelas atividades humanas, o alerta do IPCC, no mínimo, questiona o modo de produção e o modo de vida humana no planeta e nos induz a mudanças profundas e necessárias. Voltando ao tema, vou me permitir não mais ter que detalhar, mas apenas listar, em parte, o extenso e impactante elenco de fenômenos climáticos e de suas resultantes sobre a vida no planeta, já amplamente divulgada pela grande imprensa, como o acréscimo da temperatura média da terra, o derretimento das geleiras e calotas polares, a desaparição de espécies, a subida do nível do mar, a desertificação e seus profundos impactos sobre a humanidade, que poderá conviver - aliás, já está convivendo - com os chamados "refugiados ambientais". Se voltarmos ao nosso país - que é o quarto maior emissor de GEE, em face das queimadas e desmatamentos de nossas florestas - o que se prenuncia é gravíssimo. Se em todo o planeta, no próximo século, ultrapassarmos a linha perigosa de acréscimo de 2 graus Celsius na temperatura média da terra, metade de nossa Floresta Amazônica (a mais importante cobertura vegetal tropical do planeta) se transformará em savana, causando profundos impactos não só na própria temperatura da terra, como no regime de chuvas em todo o hemisfério sul. Para o nosso Nordeste, as previsões não são menos sombrias. O nosso semi-árido, que, mais uma vez, convive com uma estiagem prolongada, se transformaria em região árida, num quase deserto, sem água e sem produção agrícola. Estaríamos diante do apocalipse? Paulo Artaxo, um dos cientistas brasileiros do IPCC, tenta nos tranqüilizar: "O aquecimento global não é o fim do mundo, de jeito nenhum", mas adverte: "Um dos pontos cruciais do relatório do IPCC é a urgência da diminuição da emissão dos gases do efeito estufa. Se não fizermos isso, a temperatura vai subir de forma a trazer danos para os ecossistemas e zonas costeiras em precedentes na história da humanidade". Para ele - e o IPCC - esse corte deveria ser em torno de 50 a 70 por cento. (Caros Amigos, edição especial: "Aquecimento Global, a busca de soluções"). Ora, a necessidade imperiosa da redução na emissão de GEE na escala de 50% a 70% torna o Protocolo de Kyoto (que, todos sabemos, não foi assinado nem pelos Estados Unidos, primeiro ou segundo maior emissor de CO2, nem pela Austrália, uma das maiores exploradoras de carvão mineral) absolutamente obsoleto e inócuo. Recorde-se, Kyoto propõe, apenas para os países em desenvolvimento (principais responsáveis pelo aquecimento), o corte de somente 5% (nos níveis de 1990) para até 2012. O Brasil, a Índia e a China, dentre outros, não são obrigados a cumprir metas de redução. Todo esse debate não se refere, por óbvio, apenas a números. Aqui se trata, em primeiro lugar, da tentativa de se compatibilizar a urgência urgentíssima na diminuição drástica de emissão de CO2 e outros GEE para a atmosfera, com o direito e a necessidade de países pobres se desenvolverem e atenderem os direitos e necessidades de sua população. Como atender tais necessidades sem tocar no padrão de vida e consumo das classes médias e altas tanto no Hemisfério Norte (onde são majoritárias) como no Hemisfério Sul (onde são minoritárias)? (Recorde-se que já gastamos 25% a mais do capital natural da terra e que seria preciso que tivéssemos pelo menos quatro planetas terra para que todos alcançassem o nível de vida do chamado "american way of life".) Essa nova "utopia" (sustentabilidade ambiental, igualdade social e desenvolvimento econômico em escala planetária) seria possível na atual configuração geopolítica mundial onde o poder destrutivo da indústria armamentista, petrolífera e minerária se materializa no Governo como de Bush, senhor das guerras no mundo? É possível superar a atual crise nos marcos do sistema capitalista? Nas palavras, mais uma vez, de Foster: "Como é que isto se relaciona com as causas sociais e que soluções sociais podem ser oferecidas em resposta tornaram-se as questões mais urgentes com que a humanidade se defronta". Esse debate se situa no campo da chamada "Ecologia Política", que, na compreensão de Joan Martinez Alier, estuda "os conflitos ecológicos distributivos - isto é, os conflitos pelos recursos ou serviços ambientais, comercializados ou não". Para ele, a ecologia política é "um novo campo nascido a partir dos estudos de caso locais pela geografia e antropologia rural, hoje estendidos aos níveis nacional e internacional" ("O Ecologismo dos Pobres", Editora Contexto). É a ecologia política, juntamente com a economia ecológica, quem pode nos desvendar as causas da crise e apontar as soluções reclamadas por Foster acima. Carlos Walter Porto-Gonçalves, um dos mais atilados ecologistas políticos da atualidade nos situa, de forma ainda mais precisa, na atual crise planetária, quando afirma que "o desafio ambiental se coloca no centro do debate geopolítico contemporâneo enquanto questão territorial, na medida em que põe em questão a própria relação da sociedade com a natureza, ou melhor, a relação da humanidade, na sua diversidade, com o planeta, nas suas diferentes qualidades" (O Desafio Ambiental, Editora Record). Para ele, há contradições profundas entre a economia capitalista e a dinâmica ambiental. A separação - "a mais radical possível", em suas palavras entre homens e mulheres, de um lado, e a natureza, de outro; a apropriação privada dos recursos ambientais, em que tudo é transformado em mercadoria; o "princípio da escassez", pelo qual um "bem só tem valor econômico se é escasso" são absolutamente contraditórios com a visão ecológico-ambientalista de riqueza natural. Vejamos, em suas próprias palavras: "Os economistas modernos vão fundar a economia no conceito de escassez, que, paradoxalmente, é o contrário da riqueza. Tanto é assim que os bens abundantes - idéia central da riqueza - não são considerados como bens econômicos e, sim, como naturais (...) Somente à medida que a água e o ar se tornam escassos - com a poluição, por exemplo - é que a economia passa a se interessar em incorporá-los como bens no sentido econômico moderno, isto é, mercantil". Essa distinção entre riqueza natural - objetivo maior de todos os movimentos ecológicos - e riqueza material - que advém da escassez e, para deleite do sistema mercantil, transforma os bens ambientais em mercadoria - também é tratada por Foster, em outro belo texto, chamado "Revolução Ecológica", onde se vale do filósofo grego Epicuro, que declarava: "A riqueza natural é simultaneamente limitada e facilmente obtenível; as riquezas de fantasias ociosas continuam para sempre" ou ainda "Quando medido pelo propósito natural da vida, a pobreza é grande riqueza, riqueza ilimitada é grande pobreza". Portanto, para Foster, "o livre desenvolvimento humano, surgindo num clima de limitação e sustentabilidade naturais, é a verdadeira base da riqueza, de uma riqueza para a existência multilateral; a busca sem limites de riqueza é a fonte primária do empobrecimento e sofrimento humanos. É desnecessário dizer que tal preocupação com o bem-estar natural, em oposição a necessidades e estímulos artificiais, é a antítese da sociedade capitalista e a pre-condição de uma comunidade humana sustentável". Assim, é plenamente justificável que se afirme que, sob o capitalismo, não há possibilidade de superação da atual crise planetária, o que nos permitiria atualizar, como quer Michel Löwy, outro grande expoente atual do ecossocialismo, a consigna de Rosa Luxemburgo para "Ecossocialismo ou Barbárie". Ora, afirmar isto - a contradição fundamental entre o sistema capitalista e uma nova forma de organização sócio-político-econômica fundada na sustentabilidade e justiça ambiental, na igualdade social e, também, por óbvio, na democracia política em suas formas mais avançadas de participação popular - por si só, não é suficiente para os ecossocialistas. Nas palavras de Löwy: "É preciso começar a construir esse futuro desde já. É necessário participar de todas as lutas, inclusive das mais modestas; como, por exemplo, a de uma comunidade que se defende contra uma empresa poluidora; ou a defesa de uma parte da natureza que esteja ameaçada por um projeto comercial destrutivo. É importante ir construindo a relação entre as lutas sociais e as ambientais, pois elas tendem a concordar, unidas ao redor de objetivos comuns" (Ecologia e Socialismo). É esse campo - os das lutas sócio-ambientais - que reclama a presença dos ecossocialistas. Aqui, poderíamos listar as lutas das comunidades costeiras contra o turismo predatório e a criação de camarões em cativeiros; a resistência dos atingidos por barragens contra os grande projetos hidrelétricos; o movimento que reúne agroecologistas, sem terra, defensores de consumidores e ambientalistas contra a adoção de sementes transgênicas; a luta de populações locais contra a ampliação das usinas nucleares; a resistência de índios e pequenos agricultores no embate contra a transposição das águas do Rio São Francisco; a articulação dos povos da floresta - índios, quilombolas, seringueiros e ribeirinhos - contra ao avanço do agronegócio do gado e da soja na Amazônia Brasileira etc. Aqui, estamos diante do que Martinez Alier denomina de "ecologismo dos pobres" ou "ecologismo popular", que, nas palavras do autor, tem como eixo fundamental o interesse pelo meio ambiente como "fonte de condição para a subsistência" e como fundamento ético "a demanda por justiça social (e ambiental, acrescentaria) contemporânea entre os humanos". Essa corrente do movimento ambientalista, por lutar "contra os impactos ambientais que ameaçam os pobres, que constituem a ampla maioria da população em muitos países" tem uma presença muito forte nos países do Hemisfério Sul (no antigamente denominado terceiro mundo). As lutas com tais características - socioambientais, ecologismo popular - têm uma importância fundamental, não só para os ecossocialistas, mas para o próprio futuro do planeta. Ali, há uma resistência que, partindo da luta concreta por direitos humanos básicos de moradia, cultura, de modo de vida e de produção, e, também, ao ambiente saudável, questiona os fundamentos não só do atual modelo econômico, mas, em última análise, investe contra as bases do próprio modo de apropriação privada do sistema capitalista, responsável pelo atual estágio de degradação do ambiente planetário. Nessas comunidades, se contrapõem não só interesses materiais, mas formas de vida e produção antagônicas. Portanto, neste momento (mesmo que de forma não articulada) podem se estar forjando não só as alianças sociais fundamentais para esse processo de transformação urgente e necessário: a Revolução Ecológica, mas, também, as bases sócio-econômico-ecológico-cultural-ético-políticas de uma nova sociedade que possa superar a atual crise ambiental global para ser, a um só tempo, ecologicamente sustentável, socialmente justa e igualitária, cultural e etnicamente diversa e política e radicalmente democrática: a sociedade ecossocialista. Estaremos à altura desse imenso desafio?


João Alfredo Telles Melo é advogado, professor de Direito Ambiental e consultor do Greenpeace
http://www.opovo.com.br/opovo/cienciaesaude/743570.html

crime contra a natureza



CRIMINOSO?


Fogo atinge área de preservação
Rocélia Santosda Redação
Novo incêndio ameaça a Floresta Nacional do Araripe. Desta vez, o fogo iniciou-se no centro da reserva. Oito focos de incêndio, em diferentes pontos da floresta, foram registrados no local, o que levanta a suspeita de ação criminosa


13/11/2007 00:36
Mais um incêndio devasta a região da Chapada do Araripe. Desta vez, o fogo atingiu a Floresta Nacional do Araripe (Flona), área de preservação ambiental. Bombeiros trabalham no local, desde o último domingo, no intuito de controlar o fogo que já consumiu mais de 50 hectares de mata nativa. Suspeita-se que seja um incêndio criminoso, provocado por fazendeiros da região. Segundo o gerente e instrutor do Prevfogo no Cariri, Vicente Alves Moreira, a queimada começou por volta das 13 horas de domingo, na região entre os municípios de Barbalha e Jardim. Eram oito focos de incêndio, um próximo ao outro. "O fogo, desta vez, é no platô da serra, no centro da floresta. Com certeza, pelas características do incêndio, trata-se de uma ação criminosa, intencional. Suspeitamos que várias pessoas atearam fogo em vários locais ao mesmo tempo. Da torre, percebemos uma linha de fogo, de oito a 10 quilômetros em vários pontos", relatou. Desde domingo, mais de 50 pessoas, entre brigadistas, bombeiros e voluntários, tentam apagar o fogo. Conforme Vicente, as suspeitas recaem sobre os produtores de gado da região, pois, segundo ele, nesta época do ano é comum fazer queimada para preparar a terra. "Com a escassez de pastagem, eles colocam o gado na unidade, o que é proibido por lei. Como o capim agreste fica sem nutrientes nesta época do ano, não sendo aproveitado pelo gado, eles tocam fogo para que o capim rebrote. Mas isso é uma das hipóteses. Só podemos comprovar após a perícia", afirmou Moreira. Vicente explicou que a alta temperatura e a baixa umidade na região contribuem para que o fogo se alastre com rapidez, impedindo um trabalho mais efetivo da brigada de incêndio. Quem sofre com as queimadas são moradores próximos aos focos. "Não conseguimos viver tranqüilamente, pois temos medo que o fogo atinja nossas casas. Eu até gostaria de ajudar a combater o fogo, mas não tenho mais forças para isso", comentou o agricultor Antônio Pereira da Silva, 80 anos, morador da localidade de Sítio Santa Rita, em Barbalha, onde um dos focos de incêndio foi registrado. (Colaborou Amaury Alencar) E-mais Conforme o Prevfogo, este é o maior incêndio registrado, este ano, na área da Floresta Nacional do Araripe (Flona). Segundo Vicente Moreira, em 2007, outros cinco incêndios ocorreram no local, destruindo mais de 80 hectares da mata nativa da Flona, sendo três na encosta e dois no Platô (no alto da Chapada). O último havia sido registrado entre os dias sete e dez deste mês, o fogo destruiu mais de 20 hectares da mata nativa no entorno da Chapada do Araripe, nas proximidades da Escola Agrotécnica Federal de Crato. Entre os dias 28 e 30 de outubro, outro incêndio atingiu o chamado "paredão" da Floresta (entorno), chegando a queimar 18 hectares de mata nativa. Ainda no mês de outubro, outra queimada devastou quatro hectares da Flona, num local próximo ao Clube Granjeiro, no Crato. No platô, o último registro de fogo, segundo Vicente, foi em agosto. A Flona do Araripe foi criada em 1946 sendo, pois, oficialmente, a primeira floresta nacional. A Flona ocupa uma área de 38.263 ha, situada ao norte do setor oriental da Chapada do Araripe e compreende parte dos municípios do Crato, Barbalha, Santana do Cariri e Jardim, todos no Ceará.


http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/744558.html