Veneno no mangue
O despejo dos efluentes dos viveiros de camarão, alguns clandestinos, provoca dores de cabeça no coordenador da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, zona que preserva mata atlântica, manguezais e um extenso banco de corais na faixa costeira de 13 municípios alagoanos e pernambucanos. "O mangue é berçário de espécies marinhas que vivem nos recifes de corais", afirma Fernando Acioli, diretor da área de preservação.
Centenas de caranguejeiros moram em favelas no litoral e trabalham em áreas cada vez mais reduzidas
Há outros vilões. As usinas de açúcar, maior atividade econômica do litoral de Alagoas e Pernambuco, somente nos últimos cinco anos vêm implantando sistemas de controle de rejeitos poluentes. "Mas continuam desmatando as margens dos rios, atingindo os manguezais", diz Acioli. A especulação imobiliária e a expansão das cidades também preocupam. Em Tamandaré, no litoral-sul de Pernambuco, lavradores do Assentamento Coqueiral/Brejo, do Movimento dos Sem Terra (MST), na beira de manguezais, exploram os caranguejos para complementar a renda. Mas a captura é predatória, admite o presidente do assentamento, Severino Nazareno, 45 anos: "Para tornar a pesca mais fácil e rápida, há pessoas que jogam no rio veneno contra carrapatos usados no gado, fazendo os camarões pularem fora d'água".
Na localidade de Barra de Serinhaém (PE), formam-se favelas nas portas dos manguezais, agrupando grandes contingentes de pessoas que não encontram emprego e buscam o sustento na natureza. São centenas de catadores trabalhando numa área cada vez mais reduzida, ganhando no máximo o equivalente a um salário mínimo mensal. "A fartura acontece no período de reprodução, quando os caranguejos saem das tocas e vagam desnorteados nos mangues atrás das fêmeas", afirma o catador José Hamilton do Nascimento, 42 anos. Ele denuncia: "muitos só pegam fêmeas ovadas, preferidas pelos bares".
Devido a abusos deste tipo, pesquisadores do Ibama propõem a adoção de medidas para tornar sustentável a captura do caranguejo, responsável pela renda de milhares de famílias. Uma das estratégias será tornar mais rígido o controle do comércio do crustáceo, evitando situações como a do restaurante cearense Chico do Caranguejo, um dos mais famosos da Praia do Futuro, em Fortaleza. O estabelecimento compra os caranguejos em Parnaíba, no Piauí, onde a iguaria existe em grande quantidade. Durante os 450 km de viagem, segundo informações do Ibama, 40% dos caranguejos não resistem e morrem. Mesmo com essa perda, o animal - comprado dos caranguejeiros por R$ 0,25 a unidade e revendido a R$ 3 no restaurante - continua gerando bons lucros.Berçários de riquezasO Brasil tem a segunda maior área de mangue mundo, com mais de 1 milhão de hectares, situada ao longo de toda a faixa litorânea, da Foz do Rio Oiapoque, no Amapá, à foz do Rio Araranguá, em Santa Catarina . Oitenta por cento desses mangues estão no Nordeste. São ecossistemas que ficam nas zonas de estuários, áreas de transição entre os ambientes marinho e terrestre habitadas por espécies vegetais resistentes à salinidade. As árvores, no total de sete espécies, podem atingir 20 metros de altura. Formam um ecossistema rico em biodiversidade, como bromélias, orquídeas e grande número de algas microscópicas, que estão na base da cadeia alimentar de peixes, crustáceos e moluscos, a maior parte de valor comercial. Em um centímetro quadrado demanguezal podem existir 200 mil microalgas. Apesar de serem protegidos por lei desde 1983, os manguezais brasileiros diminuíram 46,4% nos últimos 14 anos, segundo a Universidade FederalRural de Pernambuco.
Centenas de caranguejeiros moram em favelas no litoral e trabalham em áreas cada vez mais reduzidas
Há outros vilões. As usinas de açúcar, maior atividade econômica do litoral de Alagoas e Pernambuco, somente nos últimos cinco anos vêm implantando sistemas de controle de rejeitos poluentes. "Mas continuam desmatando as margens dos rios, atingindo os manguezais", diz Acioli. A especulação imobiliária e a expansão das cidades também preocupam. Em Tamandaré, no litoral-sul de Pernambuco, lavradores do Assentamento Coqueiral/Brejo, do Movimento dos Sem Terra (MST), na beira de manguezais, exploram os caranguejos para complementar a renda. Mas a captura é predatória, admite o presidente do assentamento, Severino Nazareno, 45 anos: "Para tornar a pesca mais fácil e rápida, há pessoas que jogam no rio veneno contra carrapatos usados no gado, fazendo os camarões pularem fora d'água".
Na localidade de Barra de Serinhaém (PE), formam-se favelas nas portas dos manguezais, agrupando grandes contingentes de pessoas que não encontram emprego e buscam o sustento na natureza. São centenas de catadores trabalhando numa área cada vez mais reduzida, ganhando no máximo o equivalente a um salário mínimo mensal. "A fartura acontece no período de reprodução, quando os caranguejos saem das tocas e vagam desnorteados nos mangues atrás das fêmeas", afirma o catador José Hamilton do Nascimento, 42 anos. Ele denuncia: "muitos só pegam fêmeas ovadas, preferidas pelos bares".
Devido a abusos deste tipo, pesquisadores do Ibama propõem a adoção de medidas para tornar sustentável a captura do caranguejo, responsável pela renda de milhares de famílias. Uma das estratégias será tornar mais rígido o controle do comércio do crustáceo, evitando situações como a do restaurante cearense Chico do Caranguejo, um dos mais famosos da Praia do Futuro, em Fortaleza. O estabelecimento compra os caranguejos em Parnaíba, no Piauí, onde a iguaria existe em grande quantidade. Durante os 450 km de viagem, segundo informações do Ibama, 40% dos caranguejos não resistem e morrem. Mesmo com essa perda, o animal - comprado dos caranguejeiros por R$ 0,25 a unidade e revendido a R$ 3 no restaurante - continua gerando bons lucros.Berçários de riquezasO Brasil tem a segunda maior área de mangue mundo, com mais de 1 milhão de hectares, situada ao longo de toda a faixa litorânea, da Foz do Rio Oiapoque, no Amapá, à foz do Rio Araranguá, em Santa Catarina . Oitenta por cento desses mangues estão no Nordeste. São ecossistemas que ficam nas zonas de estuários, áreas de transição entre os ambientes marinho e terrestre habitadas por espécies vegetais resistentes à salinidade. As árvores, no total de sete espécies, podem atingir 20 metros de altura. Formam um ecossistema rico em biodiversidade, como bromélias, orquídeas e grande número de algas microscópicas, que estão na base da cadeia alimentar de peixes, crustáceos e moluscos, a maior parte de valor comercial. Em um centímetro quadrado demanguezal podem existir 200 mil microalgas. Apesar de serem protegidos por lei desde 1983, os manguezais brasileiros diminuíram 46,4% nos últimos 14 anos, segundo a Universidade FederalRural de Pernambuco.
Sérgio Adeodato Revista Horizonte Geográfico - São Paulo,SP outubro 2004
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